quinta-feira, 23 de abril de 2009

Por quê ainda prefiro a solidão – Três

Enquanto ainda não inventam a mágica para se transformar a outra pessoa em pizza após o sexo, continuo com as putas. É bom chamar alguém de puta e não ser recriminado. E o que é fascinante nessa relação é que você não paga para a mulher vir até a sua casa. Você paga para ela ir embora. Outro dia estava sem grana, então a puta começou a chorar e disse que queria discutir a relação. Respondi que a culpa não era minha se ela não aceitava cartão. Por que as mulheres podem falar, falar e falar e nós não podemos bater? As mulheres não são tão fortes fisicamente e por isso precisaram desenvolver o ato da verbalização. Foi a seleção natural das coisas. A mulher que não conversava, que não discutia, não sobreviveu. Mas o que isso tem a ver com nós, homens. As pessoas também precisam entender que os homens, na evolução biológica nunca precisaram conversar. Tudo sempre foi resolvido na força. O que não se justifica é o excesso das coisas. Em tudo. Por isso deveria haver também uma delegacia do homem. “Bom, doutor, ela chegou do supermercado e me pegou de conversa. Falou tanto, tanto, que estou tonto até agora. Quase morri. Agora estou com medo de voltar pra casa”. Acho injusto só poder usar a minha força, quando ela está muito excitada e pede. Como ela se sentiria se só pudesse falar quando eu pedisse?
Ass. Seu Cisco
Foto by Diane Arbus

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Por quê ainda prefiro a solidão – Dois

E se encontro a minha alma gêmea? Quando temos alguém ficamos confiantes demais. Quase nas nuvens. Achando que nada poderá nos destruir. Duas grandes torres. E se sofrermos um atentado? Dois aviões terroristas podem acabar com tudo. Não quero me tornar um vão triste, museu de tragédia.

Desculpe, Sofia, não é você. Só acho que ainda não superei o 11 de setembro.

Ass. Seu Cisco
Foto by Henri Cartier-Bresson

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Por quê ainda prefiro a solidão – Um

A vizinha se aproximou. Não fui simpático. Não a cumprimentei. Fingi que não a vi. Mesmo assim ela se aproximou. Reclamou do filho, da chuva e do Lula. Reclamou da novela, do síndico e da aposentadoria. Depois me falou, como sempre me fala, dos quinze mil reais que tem guardado no banco. Depois me disse que resolveu gastar o dinheiro, já que não deve ter muito tempo de vida (espero eu). Agora contratou uma faxineira. A doença atrapalha os afazeres domésticos. Não sei o que ela tem. Não perguntei. Mas acho que a doença dela é a velhice. Depois ela se despediu dizendo que precisava arrumar a casa. Jamais deixaria aquela bagunça. O que a faxineira iria pensar dela? Que ela é uma porca? Não. Saiu depois da frase “Eu sou pobre, mas limpinha, meu filho”. Não sei o nome dela. Ela provavelmente não sabe o meu. Mas nunca a chamaria de “minha mãe”. Amanhã passo o dia no parque Bueno Aires ou no Café Photo. Já que não posso ouvir a minha música alto, também não quero ouvir as reclamações sobre a faxineira.
Ass. Seu Cisco

quarta-feira, 8 de abril de 2009

O Fino da Fossa

Não acredito em Deus. Não acredito no velho barbudo que solta raios pela mão. Muito menos numa força superior que rege tudo. Descobri isso na madrugada de sábado. Senti-me mais sozinho do que nunca. Agora entendo a sua solidão, Vinicius. Conversamos até o amanhecer. Gosto de conversar. Gosto de pessoas inteligentes que sabem conversar. Por isso sempre amanhece. E isso é uma das poucas coisas que fazem sentido pra mim. Então leio o amigo Bebum e descubro os mesmos pratos empilhados na pia.

Eu sei, Sofia. Talvez fosse mais fácil acreditar na vida eterna. Mas não consigo acreditar nisso. Sou ansioso demais. E sofro por isso. Estou velho e ainda não fiz tudo o que queria. E eu só queria envelhecer como o Clint Eastwood.

Não peço que entendam a minha melancolia. Também não entendo as pessoas que acreditam “numa força superior que rege tudo”. Esse meio termo é ridículo. Parece que a pessoa não tem coragem nem de admitir que acredita em Deus e nem que não acredita. Deus não é uma força superior que rege tudo. Deus é Deus, porra.

Outra coisa que não entendo é a busca incessante das pessoas pela felicidade. Não fazem outra coisa além de correr atrás da felicidade. As pessoas estão viciadas na felicidade. Outro dia mesmo o cara matou a mulher e a filha para ser feliz com a amante. E assim como você, ele só quer ser feliz. E não é a mesma coisa que usar cocaína? Passar a vida sorrindo é que nem cheirar cocaína. Você não pára. Você não chora. Você não pensa. Você não existe. Você não entende nada, muito menos a melancolia de alguém.

A vida é ser feliz e triste e chato e fodão e um monte de coisas. Sem grau de importância. Sem julgamento de valores.

Queria gostar de cerveja para recusar o vinho barato. Não me preocupo em atribuir sentido as coisas. Preocupo-me em sentir, só.

Estou velho, viúvo, sozinho. O amigo vai embora. Até a revista faliu. E posso afirmar que não estou melhor e nem pior do que você. Estou morrendo. E quem não está, Sofia?

Ass. Seu Cisco