terça-feira, 10 de novembro de 2009

Simplesmente Amor

Quando estou só,
defeco em mim mesmo.
Cagada atrás de cagada.
A carência é o meu laxante.
Algo que não posso evitar
Ou simplesmente vomitar.
Não é o estômago.
É o coração.
Ou não.
Porque a solidão deixa a razão torta.

Choro pra que troquem as minhas fraldas.
Choro pra que me dêem o peito.
Assim meio criança mimada.
Assim meio velho safado.
É feio, eu sei, Sofia?
Não suporto meu cheiro nesses dias.
Como as mulheres que menstruam, apaixono-me.
É bom, mas dói feito virgem.
E o cabaço está sempre lá, intacto.
Sorrio, sofro, tremo, sofro...
Tudo ao mesmo tempo,
Como se fosse sempre a primeira vez.
E você me diz que isso é romântico, Sofia?
Não é.
É estupro.
Sou puta da solidão.
Olhos pintados,
Lábios vermelhos.
No fundo, ridículo palhaço.
Mas se não fosse o salto,
Fugiria desse cafetão.

Ass. Seu Cisco

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

THE PALE BLUE EYES

Terapia é que nem bombinha de São João: às vezes funciona, às vezes não. O problema é acreditar que fazer terapia lhe dá a credencial para fazer qualquer coisa. Loucura ainda é loucura, mesmo que outra pessoa diga que não. Ainda te prenderão. Ela não. "Queria apenas ajudar". Imunidade pela falsa boa intenção. Crueldade ainda dói. Mesmo que outra pessoa diga que isso e aquilo não é crueldade. O problema é acreditar que outra pessoa (tão torta como você) possa definir isso ou aquilo só através da lógica. Nem eles e nem ninguém tem certeza de nada. Mas entendo-os. Precisa-se do dinheiro. E o sofismo rende. Às vezes também falo qualquer coisa por dinheiro. Qual o problema? Tem gente que dá o cú por isso. Mas sou hipócrita ou sacana ou esperto demais. Não acredito no que me falam por dinheiro. Não encontro sinceridade para isso. Há interesse. Só acredito nos amigos. Por isso tenho poucos. Há frescura demais e delicadeza de menos. Falta sinceridade. Sobra interesse fútil. Por isso, Sofia, o dinheiro da consulta vai para a maconha com os amigos. Eu, velho ateu, não tenho ajuda espiritual. Eu, descrente do que me falam, sou amargo. Vejo-me limão, bem verde, bem azedo, bem solitário e bem sem Deus. Mas não consigo enxergar os lados. Nem escutar o alerta de incêndio. Isso é bom ou ruim, Sofia? Posso me queimar. Ás vezes é melhor do que passar frio, não é? É. Parece. Não sei. Talvez o contrário. Por isso até os frangos congelados carregam poesia e causam inveja. Os vegetarianos são equivocados. Sofia, serão os cachorros nas portas das padarias os únicos que entendem o sentido da vida? Às vezes é tão óbvio o que deve ser dito. Não se precisa de faculdade para isso. Por isso geralmente o X da questão não é o que precisa ser dito, mas sim o que precisa ser ouvido. Enfim... Estou de saco cheio de quem diz que tinha problemas, mas que agora faz terapia. É chato. É como acreditar que o dízimo lhe salvará do inferno. A bíblia não salva. Nem aquele livro de auto-ajuda que você acabou de comprar. Nós somos o próprio demônio. E isso, pequeno detalhe, determina a temperatura que determina o suor, ora de prazer, ora de dor.
Ass. Seu Cisco

quinta-feira, 18 de junho de 2009

911

No prédio da frente, um ex-namorado fez a ex-namorada de refém. Está lá agora na janela com a arma apontada na cabeça dela. Ele grita e ela chora. A mesma coisa de sempre. Clichê. Ai que saco. No primeiro grito peguei o telefone e disquei 9-1-1. Eles devem chegar logo. Quanto tempo leva a viagem dos Estados Unidos pra cá, Sofia? Uns dois dias? Se for assim, ótimo. A polícia brasileira só age mesmo depois do terceiro dia. Dá tempo da polícia americana chegar e ainda passar na 25 de março. E que fique bem claro, nada contra a polícia brasileira. Confesso que gostei daquele filme em Santo André. Uma mistura de Chaplin com Mazzaropi. A minha cena preferida foi aquela em que o médico tentava entrar no apartamento e ninguém deixava. Sabem? Mijei de rir. Sempre mijo por causa da incontinência. E não posso deixar de citar o Teatro de Rua, que aconteceu no Rio de Janeiro, com aquele ônibus, pura Comédia Dell’Arte. Lembram? Mas nesse caso, especificamente, daqui do prédio da frente precisamos da polícia americana. Eles são intolerantes. E provavelmente matarão o casal e mais uns cinco, no embalo. Assim haverá silêncio e poderei dormir.

Ass. Seu Cisco
by Henri Cartier-Bresson

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O que é o que é?

O Que é o Que é?
O que é um velho feliz? Assanhado.
E se ele sorri para uma criança? Pedófilo.
E se o velho não sorrir pra ninguém? Amargo, não teve infância.
E se ele reclama? Velho chato.
Um velho quieto? Velho triste.
Se um velho faz alguma coisa é porque esta querendo se matar.
Se ele não faz nada é porque ele está querendo morrer.

O que é um velho? Alguém cujo tempo passou.
E pra alguém o tempo não passa, Sofia?
A constatação é óbvia?
E porque você ainda acha que é diferente?

Há dúvida no que somos e no que podemos ser.
Mas não há dúvida no que nos tornamos.

Então me isolo. E isso não acontece porque sou velho.
Isso acontece porque você me julga o tempo todo e se esquece de limpar a própria bunda.
Não me importa o seu julgamento. É que você fede e eu tenho o olfato de um bebê.
E por isso prefiro a solidão - Quatro
Ass. Seu Cisco
Foto by Luís Antônio

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Por quê ainda prefiro a solidão – Três

Enquanto ainda não inventam a mágica para se transformar a outra pessoa em pizza após o sexo, continuo com as putas. É bom chamar alguém de puta e não ser recriminado. E o que é fascinante nessa relação é que você não paga para a mulher vir até a sua casa. Você paga para ela ir embora. Outro dia estava sem grana, então a puta começou a chorar e disse que queria discutir a relação. Respondi que a culpa não era minha se ela não aceitava cartão. Por que as mulheres podem falar, falar e falar e nós não podemos bater? As mulheres não são tão fortes fisicamente e por isso precisaram desenvolver o ato da verbalização. Foi a seleção natural das coisas. A mulher que não conversava, que não discutia, não sobreviveu. Mas o que isso tem a ver com nós, homens. As pessoas também precisam entender que os homens, na evolução biológica nunca precisaram conversar. Tudo sempre foi resolvido na força. O que não se justifica é o excesso das coisas. Em tudo. Por isso deveria haver também uma delegacia do homem. “Bom, doutor, ela chegou do supermercado e me pegou de conversa. Falou tanto, tanto, que estou tonto até agora. Quase morri. Agora estou com medo de voltar pra casa”. Acho injusto só poder usar a minha força, quando ela está muito excitada e pede. Como ela se sentiria se só pudesse falar quando eu pedisse?
Ass. Seu Cisco